segunda-feira, 13 de abril de 2015

Farmacodinâmica

   Hoje entraremos em uma área nova da farmacologia, a farmacodinâmica. Em sumo, ela pode ser entendida como "o que o fármaco faz com o organismo", ou seja, eventos relacionados a interação do fármaco com o seu receptor.
   A primeira informação que devemos saber para entender a fármaco dinâmica é que a célula não poderá desenvolver uma 'nova função' por causa de um estímulo externo, uma célula epitelial não poderá secretar insulina, por exemplo, pois não foi 'programada' para isto.
   Outra questão primordial é entender o gráfico da farmacodinâmica. Ele tem como objetivo relacionar a dose ao efeito do fármaco. Posteriormente explicarei melhor o motivo pelo qual devemos conhecer e saber interpretá-la.
   
Gráfico da farmacodinâmica. 



   Um dos princípios básicos da farmacologia diz que as moléculas dos fármacos precisam exercer uma influencia química sobre um ou mais constituintes das células para produzir uma resposta farmacológica.  Para que os efeitos ocorram é preciso que haja uma distribuição não uniforme das moléculas do fármaco dentro do corpo ou tecido, ou seja, as moléculas precisam ligar-se a constituintes específicos.
"Corpora non agnunt nisi fixata" - Ou seja, Um fármaco (em geral) não agirá a menos que esteja ligado. (Ehrlich)
   Estes sítios de ligação são conhecidos como alvos farmacológicos, ou seja, aonde ele irá atuar.  Existem 4 tipos de principais proteínas que atuam como alvos farmacológicos; Receptores, enzimas carreadores e canais iônicos. Os receptores são moléculas proteicas cuja função é reconhecer os sinais químicos e responder a eles.
   Para que um fármaco seja útil como instrumento terapêutico ou cientifico ele precisa agir de forma seletiva sobre determinados receptores, ou seja, precisa possuir a especificidade.  A capacidade de reconhecer e ser reconhecido por um receptor é de primeira importância para a ação de uma droga.
   A afinidade é o que determina se o fármaco e o receptor vão ou não ficar ligados, está diretamente relacionada ao tipo de ligação entre ambos. Esta característica também pode ser definida como a potência de uma droga, se ela for mais potente ficará ligada mais facilmente.
   A atividade é determinante da eficácia do produto, se tiver atividade desempenhará uma ação. Será um agonista (posteriormente voltarei neste assunto). Eficácia apenas é considerada nestas condições.
   Agora voltemos ao gráfico...


   Observe os 3 fármacos acima, a,b e c. Perceba que o fármaco a consegue um efeito de 100% com uma dose relativamente baixa, podemos considerar então que este é o que apresenta maior potencia. O fármaco b, por sua vez apresenta menor eficácia. Por fim, o fármaco c, apresenta a menor potencia. 
   Um fármaco pode ativar o receptor de várias formas, dentre elas podemos ressaltar a ligação em um receptor na membrana da célula e modulação de canais iônicos. Em relação às ações, um fármaco pode modular a proteína G (Adenilil Ciclase, fosfolipase C, Calmodulina) ou modular enzimas (Tirosina cinase, MAP cinase, e Janus cinase) além da sua ação intracelular.
   Se um fármaco tiver Especificidade + Afinidade + Atividade ele será considerado um Agonista
   Os Antagonistas possuem especificidade + afinidade . 
   Se a eficácia do fármaco for = 1 (igual a um) ele é chamado de agonista. Caso ela seja <1 (menor que um) e >0 (maior que zero) é conhecido como agonista parcial. Caso a eficácia seja =0 (igual a zero) este fármaco será um antagonista.
   A segurança de um medicamento também é um ponto imprescindível a ser tratado, e é determinado pelo índice terapêutico (IT). Este índice pode ser simplesmente calculado, colocando-se a Dose Letal para 50% das pessoas ( DL50 ) sobre a Dose Eficaz para 50% das pessoas (DE50). O resultado desta divisão será o número de doses que uma pessoa poderá ingerir no máximo. 
   Por exemplo, consideraremos a DL50 de certo fármaco 200mg e a DE50 do mesmo 40mg. 200/40 = IT   ---> IT=5 doses. 
   Utilizando o senso crítico sobre esta situação, podemos ver que esta droga não é segura, visto que 5 doses é um numero baixíssimo, que facilmente uma pessoa poderia se intoxicar gravemente, levando-a a morte. 

   
   

Reações adversas aos fármacos

   Segundo a OMS, as reações adversas são todas as reações ou efeitos indesejáveis que acontecem, usando um fármaco da maneira correta.
   Quanto a localização, pode ser dividida em local ou generalizada. Como se pode presumir, a reação local acontece no onde o fármaco foi administrado, o exemplo clássico é do Shampoo que causa queda de cabelo. As reações generalizadas são mais graves e incluem respostas sistêmicas como choques anafiláticos. 
   Quanto ao tempo, podemos dividi-las em aguda, subaguda e crônica. Aguda está relacionada a algo imediato, que aparece logo na primeira vez que se usa o medicamento. A reação subaguda irá depender de vários fatores (como alimentação) para ocorrer e dificilmente será expressa na primeira vez que se tem contato com o agente. A reação crônica irá demorar muito mais tempo para aparecer, um exemplo é a reação a esmaltes em mulheres idosas que passaram toda a sua vida pintando as unhas e "nunca tiveram nada". 
   A gravidade das reações adversas podem ser benignas ou graves. As reações benignas não deixam sequelas no indivíduo, como a sonolência causada pelos anti-alérgicos. As graves, em contrapartida deixam sequelam ou podem levar a morte, como uma anafilaxia com edema de glote, por exemplo. 
   Os tipos de reações adversas serão descritos abaixo;
  • Efeito Colateral; É causado com drogas promiscuas, ou seja, que se ligam a outros receptores, que não o seu. É um efeito previsível e irá ocorrer com todas as pessoas que usarem o medicamento. Um exemplo deste tipo é a dor de cabeça causada por um medicamento contra cólicas menstruais, que irá ligar-se não só ao receptor uterino como também a receptores em vasos que irão contrair e causar cefaleia. 
  • Efeito secundário; É também previsível, porém é resultado da ação primária do medicamento. Vamos ao exemplo para ilustrar melhor, imagine um medicamento de ação diurética, ele irá estimular os rins para filtrarem mais e desta forma aumentar o volume urinário, com este volume aumentado é de se esperar de a pressão arterial da pessoa caia por conta da hipovolemia. A hipovolemia causada irá ser reconhecida pelos baroceptores, que irão aumentar a frequência cardíaca, que é o efeito secundário. 
  • Hipersensibilidade; está relacionada a resposta 'alérgica' e se tratam de celulas Th2. Nestes indivíduos substancias que não são nocivas induzem a produção de IgE. Em um contato seguinte com a mesma substancia, ocorre a liberação de histamina, PAF (fator de ativação plaquetário), eicosanoides e citocinas. Em casos graves esta condição pode evoluir para choque anafilático e envolver risco de morte. é importante ressaltar que a hipersensibilidade não vai ocorrer no primeiro contato com a droga e não irá se relacionar com a quantidade do agente e sim com a qualidade.
Reação de hipersensibilidade a um fármaco.
  • Idiossincrasia; São reações nocivas, às vezes fatais, que ocorrem em uma minoria dos indivíduos. Em geral considera-se que as respostas idiossincrásicas se devem ao polimorfismo genético. Não é previsível. O exemplo clássico é a Síndrome de Reye, que é desencadeada pelo acido acetilsalicílico (AAS).
  • Efeito paradoxal; Simplesmente ocorre o efeito contrário do esperado. Não pode ser previsto e ainda não há uma explicação lógica para o fato. 
  • Teratogenia; o medicamento atravessa a placenta e atinge a formação do embrião, criando má formações congênitas.
Exemplo de Teratogenia
  • Dependência: Alguns fármacos causam dependência, seja ela psíquica ou física. A dependência psíquica está ligada ao impulso de tomar o medicamento, uma vontade quase incontrolável, na ausência do mesmo o indivíduo sofre uma condição chamada fissura.  A dependência física ocorre porque o corpo já se 'acostumou' com a presença da droga e na ausência da mesma sobre de sintomas e sinais aparentes, como o tremor no músculo esquelético, por exemplo.
  • Tolerância: Pode ser farmacocinética, ligada a síntese de enzimas que irão degradar mais rapidamente o fármaco. Ou farmacodinâmica que consiste na Donw regulation dos receptores na célula alvo. Quando a pessoa afirma que o medicamento não funcionava mais como antes podemos suspeitar de tolerância. 
  • Hipo-reatividade: É caracterizada quando uma pessoa responde abaixo do esperado para dose de medicamento usada eficazmente para a maioria da população. 
  • Hiper-reatividade: É caracterizada quando um indivíduo reage de forma excessiva a quantidade de medicamento ideal para a maioria da população.



segunda-feira, 6 de abril de 2015

Metabolismo/Biotransformação e Eliminação dos fármacos

A retirada do farmaco do corpo pode ocorrer de duas formas; Metabolismo, onde ocorre uma conversão enzimática do mesmo e pode ocorrer por anabolismo e catabolismo. Eliminação, os o farmaco ou seus metabolitos são eliminados do corpo.
   A maior parte dos fármacos é eliminado pela urina inalterados em em forma de metabólitos polares.
   O metabolismo dos fármacos pode ser dividido em reações de fase 1 e reações de fase 2.
   As reações de fase 1 são catabólicas, ou seja, envolvidas coma degradação, seja ela oxidação, redução ou hidrólise. Seus produtos são normalmente mais reativos do que o fármaco original. Esta fase ocorre principalmente no fígado. Com frequência o sistema de aminoácidos chamados citocromo P450 participa desta fase.
   As reações de fase 2 são basicamente anabólicas, ou seja, a fase é voltada para a síntese, que normalmente resulta em produtos inativos e polares por um processo chamado conjugação. A circulação entero-hepática se dá quando ocorre a conjugação e o metabólito lançado no intestino juntamente com a bile volta a ser absorvido.
   Alguns fármacos são eliminados com tanta facilidade pelo fígado que a quantidade que chega a circulação sistêmica é consideravelmente menor do que a absorvida. Um fármaco quando é metabolizado pelo fígado em metabólitos ativos/inativos e é 'eliminado' juntamente com a bile, voltando assim para o intestino, este é um exemplo de remoção pré-sistêmica /metabolismo de primeira passagem. 
   A excreção/eliminação dos fármacos pode ser feita por diferentes vias como lagrima, saliva, suor, leite, urina e fezes. Duas destas vias merecem maior atenção, são elas; Leite e Urina. O leite é um alimento essencial para o recém nascido, e por sofrer um fenômeno chamado aprisionamento iônico merece maior relevância. 
  O aprisionamento ionico pode ser explicado simplificadamente com um exemplo: Imagine um fármaco com pKa 9,0 distribuído pelo organismo. Vamos considerar o plasma (pH 7,4), a urina (pH 8) e o suco gástrico (pH 3). Em cada compartimento, a razão entre as formas ionizadas ou não de um fármaco é determinada pelo seu pKA e o pH do compartimento onde ele está. Assim, a forma não ionizada pode atravessar a membrana e consequentemente atingir concentrações iguais em cada compartimento, diferentemente da forma não ionizada, que não pode atravessar. No suco gástrico a concentração estaria mais alta, pois o fármaco tornou-se hidrossolúvel, em contrapartida, na urina ele estaria em baixa concentração pois tornou-se lipossolúvel e desta forma foi possível passar pela barreira celular.
   Entendido sobre o aprisionamento iônico, voltamos a tratar sobre o Leite humano como via de excreção farmacológica. Alguns fármacos podem sofrer o processo de aprisionamento nos alvéolos mamários (pH relativamente ácido) , como a anfetamina por exemplo, que possui um pKA básico ( pKA 9). Este fenômeno pode levar a intoxicação do bebê.
  A Urina é formada no néfron (pH 6), após etapas de filtração glomerular, secreção tubular e difusão através do túbulo renal. A creatinina plasmática é o marcador fisiológico da filtração glomerular. Caso a filtração esteja apenas com metade de sua capacidade, os níveis de creatinina plasmática estarão dobrados. A maioria dos fármacos atravessa livremente o filtro glomerular, a não ser os que apresentam uma grande ligação com proteínas plasmáticas.

   É bom saber:

  • A indução de enzimas P450 pode acelerar acentuadamente o metabolismo hepático dos fármacos. Em consequencia, pode haver aumento da toxicidade de fármacos que possuem metabólitos tóxicos.
  • O metabolismo pré-sistêmico no fígado ou na parede intestinal reduz a biodisponibilidade de diversos fármacos quando administrados por via oral.
  • Muitos fármacos, especialmente os ácidos e bases fracas são secretados ativamente para o interior do túbulo rena, sendo eliminado mais rapidamente. 
  • Fármacos lipossolúveis são absorvidos passivamente por difusão no túbulo, não sendo eficientemente eliminado na urina.
  • Devido à partição por pH, ácidos fracos são eliminados mais rapidamente em urina alcalina.
  • Diversos fármacos importantes são removidos predominantemente por eliminação renal, podendo causar toxicidade em idosos e pacientes com doenças renais.
  • O bicabornato é colocado juntamente com o Crack a fim de diminuir a excreção e aumentar a reabsorção.

DICAS
  • Latência é o tempo decorrido do momento que o fármaco foi administrado até a concentração minima necessária para exercer sua função.
  • T.c.max é o tempo que demora para que o fármaco atinja a maior concentração sanguínea. 
  • Janela terapêutica é o tempo que a droga está exercendo sua função, ou seja, o tempo acima da concentração mínima.
  • A dose venosa é a massa que chegou na corrente sanguínea e pode ser calculada pela fórmula do VD ( VD=M/Q).
  • O cálculo da biodisponibilidade é feito com uma simples regra de 3, onde o total administrado por via oral (por exemplo) está para 100%, assim como a dose venosa/massa que chegou ao sangue está para X.  A porcentagem encontrada será a biodisponibilidade.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Distribuição dos Fármacos

   A distribuição dos fármacos pode ser entendida simplesmente como quanto da droga é mandado para cada parte do corpo, e pode ser uniforme ou não homogênea. 
   O VD pode ser calculado com a seguinte fórmula: VD=M/Q . Onde; 
  • M é a massa que chegou ao sangue do indivíduo, por exemplo; 100mg.
  • Q é a concentração sanguínea do fármaco, por exemplo, 1mg/dL.
  • VD Deve ser dado em litros, então é importante lembrar de converter após o término da conta, de dL para L, para tanto, basta dividir por 10.
   Os fármacos hidrossolúveis ficam presos principalmente no plasma e líquido intersticial. Em contrapartida, os lipossolúveis podem se acumular em todos os compartimentos, seja plasma, liquido intersticial, intracelular, transcelular ou na gordura.
   Como já foi citado anteriormente, a biodisponibilidade é um fator importante para se entender uma questão sobre VD. Por exemplo, se a biodisponibilidade de certo farmaco é 50%, temo que entender que apenas metade do que foi administrado chegará ao sangue, então a massa deste, na continha do VD será referencialmente metade do que lhe foi administrado.
  A ligação às proteínas plasmáticas é um fator intrínseco à biodisponibilidade e possui alta variabilidade. A quantidade ligada às proteínas plasmáticas ficará 'presa' e não ira fazer real efeito no organismo da pessoa. É importante ressaltar que o que sobra da ligação às proteínas plasmáticas deve ser a dose minima necessária para se atingir um efeito desejável.
   As interações medicamentosas são de alta periculosidade, pois caso um farmaco A se ligue a mesma ptna do farmaco B, um deles - normalmente o de menor potência - irá ficar com uma porcentagem maior do que a que realmente necessitaria solta no plasma, e caso esta quantidade atinja a dose máxima recomendada pode trazer diversas consequencias para o organismo.
   A meia vida biológica da droga é o tempo , em horas, que um organismo leva para diminuir a concentração do fármaco pela metade.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Vias de administração e absorção

   As vias de administração de dividem em dois grandes grupos; tópica e sistêmica. A via de administração tópica tem ações e efeitos locais e não possui absorção considerável. Em contrapartida, a via de administração sistêmica permite que o medicamento chegue a corrente sanguínea, seja por via enteral ( do grego 'entero'= intestino) ou parenteral ( do grego 'para'= Ao lado + 'entero'= intestino).
   Relacionadas a via de administração enteral ou seja, que passa pelo intestino, temos as vias que serão consideradas abaixo;
  • Oral  - O fármaco é administrado pela boca e possui uma absorção muito satisfatória, além de desprezar mão de obra especializada. Por esta via ocorre um fenômeno chamado Metabolismo de primeira passagem/remoção pré sistêmica. A remoção pré sistêmica ocorre pois alguns fármacos são metabolizados com tanta eficiência pelo fígado que a quantidade que chega à circulação sistêmica é consideravelmente menor do que a absorvida, por esta razão é necessária uma dose maior do fármaco quando é administrado por esta via. Algumas indústrias utilizam este metabolismo para usar as bactérias intestinais para ativar seus metabólitos, este esquema é amplamente utilizado por anticoncepcionais. Alguns fatores podem interferir na absorção intestinal, como motilidade, fluxo sanguíneo esplâncnico, tamanho da partícula e sua formulação, além de outros fatores físico-químicos.
  • Retal  - Nesta via o efeito é um pouco mais rápido por conta dos plexos hemorroidários.
  • Sublingual  - É uma via discutida em relação ao grupo que se encaixa, porém é considerada por muitos a melhor das vias, apesar de para a absorção ocorrer é necessário que a molécula seja bem pequena. 
   As vias parenterais, por sua vez se dividem em injetáveis e não injetáveis. As não injetáveis são;
  • Inalatória  - Efeito rápido da droga por conta da quantidade de capilares pulmonares.
  • Transdérmica  - Por exemplo adesivos de anticoncepcional ou de nicotina. Por esta via o fármaco atravessa a derme.
  • Subdérmica  - Implante feito sob (em baixo) a derme podendo conter analgésicos, anticoncepcional, etc. Por esta via o fármaco NÃO ATRAVESSA a derme, pois já foi administrado em baixo dela.
   As vias parenterais injetáveis são;
  • Via intramuscular
  • Via intra-arterial
  • Via intracardíaca
  • Via intratecal
  • Subcutânea
   Absorção farmacológica pode ser definida como a passagem de um farmaco de seu local de administração até o plasma. Considerando esta afirmação, podemos deduzir que a via intravenosa não possui absorção pois é administrada diretamente no próprio sangue.
   A adsorção é um processo químico, onde um corpo, por atividade osmótica atrai um elemento químico para perto de si.
   A maioria dos fármacos é capaz de entrar na célula por difusão, poucos por transporte ativo e  substancias endobióticas (do próprio organismo humano, como vitamina B12, por exemplo) são atravessadas pela membrana celular por transporte facilitado. Alguns fatores interferem na entrada do fármaco na célula, como concentração, diâmetro da partícula, espessura da membrana, vascularização, superfície de contato, tempo de contato, solubilidade, etc. .
   A solubilidade da droga pode variar conforme o pH que ela se encontra, relacionado ao seu pKa. Na solução ela pode se encontrar hidrossolúvel ou lipossolúvel. Quando o fármaco encontra-se lipossolúvel terá mais facilidade em entrar em uma célula. 
   Observe a imagem abaixo para uma melhor compreensão da relação pH, do meio onde o fármaco se encontra e do pKa, uma propriedade do fármaco que mostra em qual pH o fármaco terá 50% de sua característica lipossolúvel e 50%hidrossolúvel.



segunda-feira, 19 de maio de 2014

Dor, opioides e anestésicos locais.

   A dor é uma experiencia subjetiva que normalmente está associada a lesões teciduais como inflamações, trauma ou até mesmo câncer embora esteja em casos mais raros ligada independentemente de qualquer causa pré-disponente obvia (como neuralgia do trigêmeo), persistir mesmo depois que a causa do problema foi eliminada (como a dor no membro fantasma), ou até mesmo ser causada por uma lesão cerebral ou do nervo. 
   Em condições normais, a dor está associada a lesão tecidual, que leva atividade nas fibras C  (relacionadas a dor profunda e difusa) e (relacionada a dor aguda e bem localizada), nervos que possuem terminações sensitivas - conhecidas pelo nome de terminações nervosas livres - que são ativados por tecidos de origem mecânica, térmica ou química.

Exemplo de dor de origem mecânica

   Focaremos aqui na lesão tecidual, que é a causa mais imediata e comum de dor e resulta na liberação local de uma serie de substâncias que atuam sobre as terminações nervosas, seja ativando-as diretamente ou potencializando sua sensibilidade, através da diminuição de seu potencial de ação. Este processo pode levar a 3 fatores:
  • Hiperalgesia: aumento da intensidade da dor associada a estímulo nocivo leve.
  • Alodinia: Dor provocada por estímulo não nocivo.
  • Dor espontânea: Dor sem qualquer estímulo precipitante.
   É importante lembrar que a percepção de estímulos nociceptivos (nocicepção) não é a mesma coisa que dor, visto que esta é uma experiencia subjetiva e inclui fortemente o componente emocional. Muitos analgésicos, como os da família dos opioides, podem reduzir acentuadamente o sofrimento associado a dor, embora o paciente não relate alteração importante na intensidade real da dor.
   Nos núcleos da RAFE a serotonina é estimulada e por sua vez estimula um neurônio inibitório que é ativado e libera endorfina para que esta diminua a intensidade da dor.
   Alguns grupos de fármacos podem interferir na dor, neste momento iremos focar nos Opioides e nos Anestésicos Locais

Opioides ou hipnoanalgésicos

   Opioide pode ser caracterizado como qualquer substancia, seja ela endógena, sintética ou natural que produza efeitos similares aos da morfina e que são bloqueados por antagonistas como naxolona.

Papoula de Papaver soniferum, de onde foi isolado a Morfina, codeína e a papaverina

   Todos os receptores para morfinas estão ligados à proteína G inibitória, que no terminal sináptico tem a ação de fechar os canais de cálcio e impedir a transmissão de estímulo. No terminal pós sináptico tem a ação de abrir os canais de potássio, hiperpolarizando os neurônios.
  Esta família é composta por, endorfina, encefalina, didorfina, metadona, morfina, codeína, heroína, desomorfina, meteridina, nalbufinas, tramadol, as fentalinas, etc.
  •  A heroína tem de 40 a 50 vezes a potencia da morfina.
  • A desomorfina tem 30 vezes a potencia da morfina.
  • As -fentalilas são 80 vezes mais potentes do que a morfina, e são usadas em forma de gás para promover anestesia para realização de cirurgias.
Efeito local devastador da desomorfina, conhecida como Krokodile por deixar a pele com aspecto de crocodilo, endurecida e escamosa antes de desenvolver a lesão acima..

   Os efeitos causados pelos opioides são  em geral; miose, xerostomia, sedação, sonolência, efeito hipnótico, euforia, analgesia profunda ou anestesia, constipação intestinal, náusea e vômito, inibição do reflexo da tosse, depressão respiratória e hipotalâmica, fechamento dos esfincteres de Oddi, contração de músculo liso. Desenvolve rapidamente tolerância e forte dependência.
   Os usos terapêuticos desta família são indicados para tratamento de dor intensa, asma, grandes queimaduras, edema pulmonar e estágios de canceres terminais. 

Anestésicos locais

  Conforme já citado, a dor local é dada por fenômenos químicos que ocorrem nos tecidos. Os anestésicos locais bloqueiam o inicio e a propagação dos potenciais de ação , impedindo o aumento da condução de Sódio dependente de voltagem. Os poros dos canais de sódio são bloqueados fisicamente pelos anestésicos locais.
   A atividade destes fármacos depende diretamente do pH, pois é necessário que eles entrem pela bainha nervosa e membrana do axônio para chegar à extremidade interna do canal de sódio. Como a forma ionizada não passa pela membrana, a penetração é muito pequena em pH ácido. Uma vez dentro do axônio, é sobretudo a forma ionizada da molécula de anestésico local que se liga ao canal e o bloqueia, sendo que a forma ionizada tem fraco poder de bloqueio. Esta informação tem grande valor clínico pois tecidos inflamados são mais ácidos e isto pode impedir que os anestésicos locais ajam de forma a exercer sua função.  
   É normal o anestésico local estar conjugado a um vasoconstritor para impedir a disseminação da substancia pelo organismo e desta forma, a rápida metabolização do mesmo ou efeitos sistêmicos indesejáveis. A permanência do constritor local também irá reduzir o risco de hemorragia e aumentar o tempo de anestesia. É importante lembrar que esta conjugação não deve ser usada nas extremidades, por risco de necrose.
   Os mais utilizados e conhecidos são a cocaína, procaína, citocaína, lidocaína, prilocaína e bupivacaína. Eles estão disponíveis na concentração de 0,5%, 1%, 2% e 5%, que correspondem respectivamente a 0,5, 1, 2 e 5 gramas de analgésico para 100mL de solvente.
   Caso a dose máxima recomendada para cada paciente seja ultrapassada pode levar a alterações mentais, tremores, convulsões, bradicardia e parada cardio respiratória. 

A cocaína é utilizada ilegalmente para promover a euforia e prazer. Visto que além de ser um anestésico local estimula o SNA simpático por impedir a recaptação da dopamina. 

   Para calcular a dose máxima recomendada é necessário saber o peso do paciente em Kg. A lidoaína, por exemplo, possui dose máxima de 5mg/kg sem vasoconstritor ou 10mg/Kg conjugado a vasoconstritor. Realiza-se a multiplicação do peso da pessoa pelo valor indicado da droga, e então realiza-se a regra de 3 simples.
  Ex: Uma mulher de 51Kg irá precisar de um anestésico local para uma cirurgia abdominal, temos lidocaína a 1%, quantos mL deverão ser administrados? 


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Anti Colinérgicos

   São compostos pelos antagonistas farmacológicos de acetil colina nos receptores muscarínicos. Compostos pela Atropina, Hioscina, Escopolamina, Ipratrópio dentre outros. Uma fonte natural destas substancias é a planta chamada Atropa belladonna, onde a maior concentração de atropina encontra-se em suas bagas, ou frutos.

Bagas de A. belladonna
   Esta familia de farmacos possui a capacidade de produzir efeitos similares àqueles dados pelos adrenérgicos. Causam midríase, xerostomia, broncodilatação, diminui peristaltismo, fecha esfincteres, em doses baixas leva à bradicardia, em doses eficazes leva a taquicardia, paralisia da pupila e é usado como anticinetótico.
   Em casos de intoxicação com altas doses desta classe de fármacos é possivel observar a ativação da area cerebral do pesadelo, levando à alucinações, alterações mentais, convulsões, hipertermia e forte vasodilatação.

Ativa a área cerebral do pesadelo

  Esta composição é utilizada em alguns medicamentos de uso cotidiano como Atroveran, Atrovent e Buscopan. 
   A Atropina é utilizada para varias intercorrências clinicas como parada cardio respiratória, intoxicação por muscarina, chumbinho ou metais pesados, sintomas de mau de parkinson, exames de fundo de olho, cirurgia ocular, cólicas e como anti-espasmódico.

Amplamente usados em auto medicação para tratar cólicas, sejam elas menstruais ou intestinais.